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O Que Acontece Quando “Nada” Acontece na Mente?

  • Foto do escritor: Instituto Neurofeedback
    Instituto Neurofeedback
  • há 20 minutos
  • 3 min de leitura

Quando falamos em consciência, geralmente assumimos que ela está sempre preenchida – seja por pensamentos, imagens mentais, sensações ou sentimentos. Mas e se existissem momentos em que a mente está, literalmente, em branco? Esse fenômeno, conhecido como Mind Blanking (MB), é o foco de um artigo recente publicado na Trends in Cognitive Sciences (2025), que propõe uma investigação neurocognitiva robusta sobre o que, exatamente, significa "não estar pensando em nada". Pesquisadores analisaram cerca de 80 estudos sobre o tema, incluindo pesquisas próprias com registros de atividade cerebral de participantes que relataram estar "sem pensar em nada". Eles destacam que, durante a vigília, nossos pensamentos transitam entre diferentes conteúdos, mas há momentos aparentemente desprovidos de conteúdo relatável, referidos como apagões mentais.


O que é mente em branco?

Durante o estado de vigília, nossos pensamentos geralmente transitam entre diferentes conteúdos. No entanto, há momentos em que parece não haver nenhum conteúdo consciente relatável. Esse estado é distinto do "devaneio", no qual os pensamentos fluem livremente, pois na mente em branco há uma sensação de sonolência, lentidão e aumento de erros.​


Principais descobertas

  • Frequência: A mente em branco ocorre, em média, entre 5% e 20% do tempo, variando de pessoa para pessoa.​

  • Características: Inclui lapsos de atenção, dificuldades de memória e ausência de discurso interno.​

  • Momentos comuns: Tende a acontecer após longos períodos de atenção sustentada, como durante provas, ou após privação de sono e exercícios físicos intensos.​

  • Populações específicas: Crianças com transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) podem apresentar esse fenômeno com maior frequência.

  • Assinaturas neurais: Antes de um apagão mental, há padrões específicos de atividade que envolve a rede modo padrão, regiões frontal, temporal e visual do cérebro.​ 

  • Episódios de sono local: Durante apagões após tarefas de atenção sustentada, observam-se diminuições na frequência cardíaca e no tamanho das pupilas, além de ondas cerebrais lentas semelhantes às do sono.​

  • Atividade neural posterior: Aumento na atividade cortical posterior pode levar a apagões, especialmente quando o pensamento acelerado resulta em função cognitiva mais lenta.

  • Desativações cerebrais: Ao tentar "esvaziar a mente", há desativações em áreas como o giro frontal inferior, área de Broca, córtex motor suplementar e hipocampo.


    🧭 Implicações Clínicas e Teóricas


    O MB tem sido reportado com maior frequência em condições como TDAH, transtornos de ansiedade e síndromes neuropsicológicas. Isso sugere que sua investigação pode oferecer pistas importantes para o entendimento de patologias da consciência e da atenção. Teoricamente, o MB desafia modelos tradicionais de consciência que exigem a presença de conteúdo para definir um estado consciente. Ele também contribui para o debate sobre formas mínimas de experiência fenomenológica — como os estados de “consciência pura” descritos em tradições contemplativas. Os pesquisadores sugerem que a mente em branco é uma experiência dinâmica mediada por estados de excitação fisiológica, sendo mais provável em estados de alta ou baixa excitação. Eles esperam que o reconhecimento do apagão mental como um estado mental distinto do estado de devaneio em pesquisas futuras contribua para uma compreensão mais profunda desse fenômeno.


    Questões em Aberto


    O artigo conclui com uma série de perguntas provocativas:

    O MB é um estado único ou um conjunto de fenômenos?

    Pode ser cultivado de forma intencional e usada clinicamente?

    É possível que muitos episódios passem despercebidos por falta de meta-consciência?

    Quais ferramentas fenomenológicas são adequadas para descrever uma experiência sem conteúdo?


    🧩 O estudo do Mind Blanking abre um campo fértil para a neurociência da consciência, ao colocar sob os holofotes um tipo de experiência frequentemente negligenciada: o não pensar. Reconhecer o MB como uma categoria mental legítima pode levar a uma compreensão mais completa da mente humana – não apenas quando está cheia de ideias, mas também quando silencia. Compreender a mente em branco pode ajudar a melhorar o desempenho em tarefas que exigem atenção prolongada e a desenvolver estratégias para lidar com lapsos cognitivos.


Fonte:




 
 
 

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