🧠 Como o Cronotipo Molda Nosso Cérebro: Novas Descobertas para a Saúde Mental e a Regulação Emocional
- Instituto Neurofeedback
- 30 de abr.
- 3 min de leitura

Com as mudanças sociais aceleradas — aumento do uso de telas, horários de trabalho flexíveis e maior exposição à luz artificial — entender como o cronotipo (a preferência por ser “matutino” ou “noturno”) afeta a saúde cerebral nunca foi tão relevante. Publicado em abril de 2025 na revista Nature Human Behaviour, um dos periódicos de maior impacto na área de neurociência e comportamento humano, o novo estudo "Multimodal population study reveals the neurobiological underpinnings of chronotype" amplia radicalmente nossa compreensão sobre como o cronotipo se reflete na estrutura e no funcionamento do cérebro.
A equipe de pesquisadores, liderada por Le Zhou e Danilo Bzdok, utilizou uma abordagem inédita, analisando dados de mais de 27.000 participantes do UK Biobank, combinando exames de neuroimagem multimodal (volume de substância cinzenta, integridade da substância branca e conectividade funcional) com medidas objetivas de atividade diária (actigrafia) e 976 indicadores de estilo de vida e saúde.
🔥 O Que a Neuroimagem Revelou?
O estudo utilizou três técnicas avançadas de neuroimagem:
1. Volume de Matéria Cinzenta (Voxel-Based Morphometry) – Notívagos apresentaram maior volume em regiões como o putâmen e córtex orbitofrontal, enquanto matutinos tiveram mais massa cinzenta no hipocampo.
2. Microestrutura da Matéria Branca (Diffusion MRI) – A integridade de feixes como o fórnix e o fascículo uncinado variou entre cronotipos, sugerindo diferenças na conectividade cerebral.
3. Conectividade Funcional (Resting-State fMRI) – Redes envolvidas em atenção, emoção e processamento sensorial mostraram padrões distintos entre os grupos.
🔥 Principais descobertas
• Ser noturno está ligado a estilos de vida menos saudáveis: maior consumo de álcool e tabaco, menor prática de atividades físicas e mais uso de telas eletrônicas.
• Matutinos apresentam melhor saúde mental e maior engajamento em atividades físicas, além de níveis mais altos de vitamina D.
• Vulnerabilidade emocional aumentada em noturnos: sentimentos de solidão, irritabilidade, depressão e fadiga foram mais prevalentes.
• Bases neurobiológicas claras: as diferenças entre matutinos e noturnos envolveram principalmente o sistema límbico, os gânglios da base e o cerebelo — regiões ligadas a hábito, processamento de recompensas e regulação emocional.
• O cerebelo ganha destaque: tradicionalmente subestimado em estudos de cronotipo, o cerebelo apareceu como peça-chave tanto para a formação de hábitos quanto para o controle emocional e o ciclo sono-vigília.
• Diferenças entre homens e mulheres: mesmo sem diferenças na prevalência de cronotipos, as variações na estrutura e função cerebral relacionadas ao cronotipo foram específicas por sexo.
🎯 Relevância para o Neurofeedback
Para quem atua com Neurofeedback, essas descobertas são extremamente relevantes. Elas mostram que o cronotipo está enraizado em redes neurais associadas ao controle emocional e ao comportamento de recompensa — exatamente os sistemas que muitas vezes buscamos treinar e regular em protocolos de modulação da atenção, ansiedade, depressão e adições. Os resultados sugerem que intervenções voltadas para regulação de hábitos, melhoria de ciclos sono-vigília e modulação de redes emocionais podem ter impactos ainda mais poderosos quando personalizadas para o cronotipo de cada indivíduo. Além disso, a identificação de regiões como o córtex orbitofrontal e o hipocampo como centrais para as diferenças entre matutinos e noturnos abre caminho para protocolos ainda mais específicos focados em sistemas de recompensa e regulação emocional. Por exemplo, pessoas noturnas podem se beneficiar de treinos que modulam a atividade límbica e dos gânglios da base, ajudando na regulação emocional e redução de impulsividade. Matutinos podem otimizar desempenho cognitivo e resiliência ao estresse com protocolos que reforçam a conectividade fronto-parietal.
Este estudo reforça a importância de abordagens multimodais e personalizadas para promover saúde mental e emocional. Além disso, alerta profissionais para considerar o cronotipo como uma variável relevante na formulação de planos de treinamento e protocolos terapêuticos.
Os autores sugerem que futuros estudos explorem:
• Intervenções cronobiológicas (como terapia de luz e ajuste de horários) para melhorar saúde mental.
• Diferenças sexuais nos padrões neurais, já que mulheres e homens podem responder de forma distinta a desalinhamentos circadianos.
Referência:
Zhou, L., Bzdok, D., et al. (2025). Multimodal population study reveals the neurobiological underpinnings of chronotype. Nature Human Behaviour. DOI:10.1038/s41562-025-02182-w
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