“O que é praticado repetidas vezes fortalece os conjuntos ou padrões de ativação cerebral. Com a repetição, a estrutura neural é literalmente alterada. É assim que os estados repetidos se tornam características duradouras”. Daniel Siegel

Em um domingo chuvoso, enquanto punha em dia minhas leituras, me deparei com essa reflexão de Siegel que ressoa fortemente com o que costumo compartilhar com meus clientes. Nossos pensamentos geram sentimentos que, ao serem repetidos, fortalecem redes neurais e se transformam em características que, muitas vezes, acreditamos ser permanentes. Com frequência, ouvimos e nos damos justificativas como: “Esse é meu jeito...”, “Nasci assim, é difícil mudar...”, ou até “Quem não gosta, que se mude!”. Sem perceber, muitas vezes, andamos pela vida repetindo padrões, estilos, conversas e explicações mentais, que acabam reforçando a autoimagem de sofredores, devedores, vítimas de circunstâncias, aumentando o sofrimento psíquico.
A Psicologia Positiva, alicerçada em descobertas neurocientíficas, nos mostra que a forma como enfrentamos os desafios da vida pode prever nosso nível de sucesso e saúde mental. E aqui não falamos de um otimismo ingênuo, pensamento mágico ou fantasioso. Ao contrário disso: é essencial exercitar a flexibilidade mental, ampliando a visão sobre os cenários de nossas vidas e as contingências a que estamos expostos, observando como se estivéssemos olhando através de um caleidoscópio, multifacetado. Isso nos demonstrará os múltiplos pontos a partir dos quais podemos acessar a realidade.
Lembrando que para onde direcionamos nosso foco, ali estará nossa atenção e ativação mental. Essa prática não é simples; requer aprendizado e exercício. Precisamos aprender a exercitar e expandir este olhar. Perceber a realidade multifacetada, de forma flexível e aberta, brincando com a realidade como se a observássemos como quem olha um fractal, destacando nuances e detalhes, desmanchando nós e sensações, facilitará a autopercepção e nos brindará com novas possibilidades de compreensão do mundo, da vida, dos outros e de si mesmo. Com o tempo, ao reforçarmos novas rotas neurais, realizamos mudanças em traços e comportamentos que antes julgávamos fixos e imutáveis. Aos poucos novas expressões tomam o lugar de antigos hábitos, revelando novos comportamentos e reações.
E como iniciar essa jornada de transformação? Começando, agora... Para inspirar essa ação, deixo outra citação valiosa de Daniel Siegel: “Ter uma mente desperta significa usar os processos mentais de atenção, consciência e intenção para ativar novos estados mentais que, com a prática repetida, podem se tornar características esculpidas intencionalmente na vida de uma pessoa.”
A mudança está ao seu alcance — basta dar o primeiro passo. Abaixo algumas sugestões que podem ser praticadas por qualquer pessoa e também que complementam o treinamento com Neurofeedback e acelera o processo:
1. Mindfulness e Meditação
Prática Regular: Dedique alguns minutos por dia para meditar ou praticar mindfulness. Isso ajuda a aumentar a consciência sobre seus pensamentos e emoções, permitindo uma melhor gestão deles.
Exercícios de Respiração: Foque na respiração, observando cada inspiração e expiração. Isso pode acalmar a mente e ajudar a abrir espaço para novas perspectivas.
2. Desafio de Crenças
Identificação de Crenças Limitantes: Anote crenças que você considera verdadeiras sobre si mesmo ou sobre o mundo. Questione-as: "Essa crença é realmente verdadeira?"
Reformulação: Substitua crenças negativas por afirmativas mais positivas e realistas.
3. Prática de Novas Habilidades
Aprendizado Contínuo: Experimente aprender algo novo, como um instrumento musical ou uma língua. Isso estimula o cérebro e promove a adaptação a novas situações.
Mudança de Rotina: Tente alterar pequenas rotinas diárias, como a forma como você vai ao trabalho ou a ordem de suas atividades.
4. Perspectivas Alternativas
Role-Playing: Imagine-se na posição de outra pessoa em uma situação de conflito. Isso pode ajudar a entender diferentes pontos de vista.
Diálogo Interno Positivo: Ao enfrentar um desafio, pergunte a si mesmo: “Quais são as outras maneiras de ver essa situação?”
5. Exercícios de Criatividade
Brainstorming: Reserve um tempo para escrever ideias livremente sobre um tema, sem se preocupar com a lógica. Isso estimula o pensamento criativo.
Artes e Manuais: Praticar atividades artísticas, como pintura ou artesanato, pode ajudar a liberar a mente e aumentar a flexibilidade.
6. Reflexão e Escrita
Journaling: Mantenha um diário para registrar seus pensamentos e sentimentos. Isso ajuda a processar emoções e a ver as coisas sob novas luzes.
Análise de Situações: Após uma experiência emocional, escreva sobre o que aconteceu e como poderia ter lidado de forma diferente.
7. Exercícios Físicos
Atividade Física Regular: Exercícios, especialmente os que envolvem coordenação e ritmo, como dança ou esportes, ajudam a melhorar a flexibilidade mental.
8. Técnicas de Resolução de Problemas
Divisão de Problemas: Quebre problemas complexos em partes menores e mais gerenciáveis. Isso torna a solução mais acessível e menos intimidante.
Exploração de Opções: Para cada problema, liste várias soluções possíveis antes de decidir qual seguir.
9. Treinamento com Neurofeedback
O neurofeedback é uma ferramenta poderosa que pode complementar as técnicas mencionadas anteriormente, especialmente no desenvolvimento da flexibilidade mental. O objetivo é ensinar o indivíduo a autorregular sua atividade cerebral, promovendo melhorias em funções cognitivas e emocionais.
Ao incorporar essas práticas na sua rotina, você poderá cultivar uma mente mais flexível, capaz de se adaptar e enfrentar os desafios da vida de maneira mais eficaz.
Comentarios